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Analice Nicolau
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Jornalismo com alma: a história por trás do Jack Comunica

Do acaso ao propósito: dois jornalistas baianos se encontram por uma live e transformam suas vivências em jornalismo inclusivo e transformador

Analice Nicolau

11/06/2025 16h00

crédito da foto 0ceanoazul

Jacson e Fabio

Era 2018. Um calouro cadeirante cursando jornalismo resolveu pedir ajuda a um colega mais experiente por meio de um comentário numa live do Facebook. Assim se cruzaram os caminhos de Jacson Gonçalves (@jacsonjornalista) e Fabio Almeida (@fabioalmeidajornalista) — dois jovens de Salvador que nem imaginavam quantas histórias ainda escreveriam juntos. Na época, Jacson precisava de orientação para um trabalho da faculdade. Fabio respondeu. Simples assim.

O que seria apenas uma conversa entre desconhecidos virou parceria, irmandade e descoberta: pouco tempo depois, os dois souberam que eram primos de segundo grau, com raízes familiares em Maragogipe. A conexão, no entanto, já vinha de antes — do desejo mútuo de fazer um jornalismo com alma, com verdade, afeto e propósito.

crédito da foto edinei dantas
crédito da foto edinei dantas

A vivência de Jacson como cadeirante abriu os olhos de Fabio para uma realidade até então invisível para ele. Acompanhando o amigo em coberturas jornalísticas, ou a testemunhar obstáculos ignorados por muitos: ausência de estrutura, preconceito, descaso. Uma vez, um motorista de aplicativo abandonou os dois na porta de um evento ao ver Jacson na cadeira de rodas. “Foi uma das piores sensações da minha vida. Eu queria gritar com o mundo inteiro”, relembra Fabio.

Em outra ocasião, durante um grande festival de música, Jacson enfrentou chuva, lama e banheiros iníveis. Sem conseguir utilizar nenhum deles, acabou se urinando. Foi tanta dor que eles decidiram não publicar a matéria — apenas uma nota de repúdio. “Aquilo foi desumano. A dor dele ou a ser minha também. E é por isso que eu nunca mais tratei inclusão como uma pauta opcional. É um dever”, diz Fabio.

crédito da foto edinei dantas (1)
o portal é uma das poucas iniciativas do jornalismo independente na Bahia com foco contínuo em inclusão, ibilidade e escuta ativa

Essas e outras vivências moldaram o surgimento do portal Jack Comunica (@portaljackcomunica), criado oficialmente em 2019. O nome foi ideia de Fabio: “Jack” pelo apelido de Jacson e “Comunica” por representar o que os dois escolheram fazer da vida. O projeto nasceu sem investimentos, sem apoio de marcas, mas com muito trabalho e convicção. Foram noites viradas, apoio da família e uma força invisível que vinha da certeza de estarem fazendo o certo.

Hoje, o portal é uma das poucas iniciativas do jornalismo independente na Bahia com foco contínuo em inclusão, ibilidade e escuta ativa. Também abriga o projeto “Vida de Inclusão”, dedicado a contar histórias de pessoas com deficiência e cidadãos em situação de vulnerabilidade — aqueles que, na maioria das vezes, ficam à margem da grande imprensa.

Jacson, que sempre sonhou ser jornalista, ouviu a vida inteira que a profissão não era para ele. Por ser cadeirante, tentaram convencê-lo de que não conseguiria. Ele seguiu mesmo assim. “Diziam que eu não podia ser repórter de rua, mas há muitas formas de ser jornalista. Eu escolhi a que me representa: a redação. E sigo provando que posso muito”, afirma.

Sua criação em um ambiente protetivo, com poucas possibilidades de autonomia, foi um desafio. Mas ele transformou limites em força. Hoje, atua como editor, colunista e comunicador digital — e é reconhecido por sua luta por ibilidade e respeito.

A história de Fabio Almeida e Jacson Gonçalves é sobre como encontros improváveis podem gerar revoluções silenciosas. Sobre como empatia e escuta podem transformar não só o jornalismo, mas a vida de quem está ao redor.

“Comunicar, pra gente, é abrir caminhos. É reparar silêncios. É dar voz a quem ficou tempo demais sem espaço. Foi isso que nos uniu, e é isso que continuará nos movendo”, concluem.

Crédito da Foto: Edinei Dantas (as demais fotos anexo)

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