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Cinema com ela
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“Tipos de Gentileza” – a sinfonia de controle e caos de Yorgos Lanthimos

O provocativo autor grego une forças novamente com o roteirista de “Dente Canino”, trazendo Jesse Plemons, Emma Stone e Willem Dafoe para um surpreendente e surreal tríptico

Tamires Rodrigues

22/08/2024 5h00

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Foto: Divulgação/20th Century Studios

Em “Tipos de Gentileza”, Yorgos Lanthimos nos convida a uma dança macabra entre poder e submissão, embalada por uma trilha sonora dissonante e performances que variam do contido ao extravagante. Como uma peça de teatro em três atos, o filme nos conduz por um labirinto de histórias entrelaçadas, cada uma mais bizarra e perturbadora que a anterior, mas sempre mantendo o tema central de controle e perda de livre-arbítrio.  Respeitando a essência perturbadora e inovadora que o cineasta grego já demonstrou em obras anteriores como “Dente Canino” (2009), “O Lagosta” (2015), “A Favorita” (2018) e o recente Pobres Criaturas (2023).

Dividido em três capítulos, o filme nos leva a ambientes onde o controle é absoluto e a liberdade, uma ilusão. Seja em um ambiente corporativo opressivo, em um casamento deteriorado por desconfiança ou em um culto de fanáticos, Lanthimos constrói um cenário onde o surrealismo serve como um espelho distorcido da sociedade moderna.

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Foto: Divulgação/20th Century Studios

O filme começa com “The Death Of RMF”, onde somos apresentados a Robert (Jesse Plemons), um homem que vive à sombra de seu chefe e amante, Raymond (Willem Dafoe). Aqui, o controle é quase palpável, manifestando-se em detalhes minuciosos e ordens que moldam cada aspecto da vida de Robert. A tensão cresce, não pela ação, mas pelo desconforto silencioso e pela crescente sensação de que algo terrível está por vir. A recusa de Robert em cumprir uma ordem, finalmente, desencadeia uma série de eventos que culminam em um colapso pessoal e psicológico, ao mesmo tempo cômico e trágico.

O segundo ato, “RMF is Flying”, nos transporta para um universo ainda mais distorcido. A esposa desaparecida de Daniel (Plemons) retorna de uma expedição oceânica, mas a dúvida constante sobre sua identidade e sanidade transforma o lar em um campo de batalha psicológico. Lanthimos brinca com nossa percepção da realidade, forçando-nos a questionar não apenas a sanidade dos personagens, mas a nossa própria. A obsessão de Daniel por controle, aqui, é desconcertante, culminando em atos que desafiam a lógica e a moralidade.

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Foto: Divulgação/20th Century Studios

Finalmente, “RMF Eats A Sandwich” nos joga em um culto bizarro, onde Omi (Dafoe) e Aka (Hong Chau) governam com um misto de carisma e crueldade. Andrew (Plemons) e Emily (Emma Stone) se encontram em uma busca desesperada para agradar seus líderes, enquanto o filme mergulha em uma mistura de absurdos e horrores. É neste segmento que Lanthimos atinge o ápice de sua sátira, expondo as fragilidades humanas em uma sociedade que muitas vezes glorifica a submissão em nome de uma causa maior.

O longa é um exercício de resistência — tanto para os personagens quanto para o público. Lanthimos desafia nossa paciência com um ritmo deliberadamente lento, diálogos lacônicos e uma estética que oscila entre o grotesco e o belo. Ele nos força a confrontar o desconforto, a refletir sobre a natureza do controle e a questionar os limites da gentileza.

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Foto: Divulgação/20th Century Studios

A parceria do cineasta com Efthimis Filippou, roteirista de longa data, resulta em um texto que é ao mesmo tempo enigmático e profundamente provocador. A trilha sonora, composta por Jerskin Fendrix, intensifica a sensação de desconforto com seus sons discordantes e corais que parecem prenunciar o caos.

Emma Stone, que já brilhou em “A favorita” e recentemente em “Pobres Criaturas”, volta a colaborar com Lanthimos e entrega uma performance impressionante. No terceiro ato, sua personagem assume uma força quase messiânica, destacando-se em uma narrativa que desafia tanto a personagem quanto a audiência. Jesse Plemons, que interpreta múltiplos papéis ao longo do filme, demonstra uma versatilidade notável, especialmente na pele de um policial cuja realidade se fragmenta diante de seus olhos.

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Foto: Divulgação/20th Century Studios

Willem Dafoe, conhecido por sua capacidade de encarnar personagens complexos, oferece uma atuação inquietante como uma figura de autoridade manipuladora, trazendo uma intensidade que complementa a atmosfera surreal do filme. Sua performance é uma continuação de seu trabalho impressionante em filmes como “O Farol” (2019), reafirmando sua habilidade de capturar personagens multifacetados.

Conclusão

“Tipos de gentileza” não é um filme para ser absorvido de forma iva. Ele exige do espectador, tanto emocional quanto intelectualmente, convidando a reflexões sobre poder, controle e a natureza humana. Com atuações fortes e uma direção que não teme o risco, Lanthimos entrega uma obra que, embora desafiadora, é profundamente recompensadora.

Confira o trailer:

Ficha Técnica
Direção: Yorgos Lanthimos;
Roteiro: Yorgos Lanthimos, Efthimis Filippou;
Elenco: Emma Stone, Jesse Plemons, Willem Dafoe, Margaret Qualley, Hong Chau, Joe Alwyn, Mamoudou Athie, Hunter Schafer;
Gênero: Suspense, Terror Psicológico;
Duração: 164 minutos;
Distribuição: 20th Century Studios; 
Classificação indicativa: 18 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z

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