A crise do Cruzeiro na Copa Sul-Americana — lanterna do grupo, desempenho vexatório — escancarou mais do que a fragilidade do elenco: revelou a completa falta de preparo de seu proprietário, o empresário Pedro Lourenço, o “Pedrinho BH”. Nesta semana, viralizou um vídeo em que torcedores cobram na porta do clube: “Devolve o time pro Ronaldo!” É o grito da torcida que agora quer de volta o Fenômeno, ou pelo menos alguém que soubesse onde estava se metendo.
A fala recente de Pedrinho, em entrevista, mostra um sujeito perdido, desnorteado diante da realidade do futebol profissional. Como se estivesse descobrindo agora que jogador ganha fortunas, empresário cobra percentual mensal, e categorias de base têm estrutura e despesas. Parece aquele cliente que entra num restaurante de luxo e, na hora da conta, diz: “Mas eu só pedi uma água e uma entradinha…”
O mais grave é que Pedrinho tenta convencer a todos — ou a si mesmo — de que foi pego de surpresa. Diz que “nunca recebeu convite” para comprar o clube e que entrou no Cruzeiro como quem tropeça num carrinho de compras. Afirma, com cara de espanto, que “isso aqui é muito caro”. E é mesmo, Pedrinho. Mas não foi por falta de aviso. O próprio Ronaldo já havia alertado, quando vendeu a SAF: futebol não é para amadores — é paixão, política, vaidade e prejuízo, tudo no mesmo pacote.
Dono de uma rede de supermercados em BH, ao comparar a gestão do Cruzeiro com o seu negócio bem sucedido, é uma das demonstrações mais explícitas de ignorância istrativa no futebol recente. Na empresa dele, se o negócio dá 3% de lucro, é motivo de festa. No Cruzeiro, parece que ele achava que dava pra vender jogador como quem vende sabão em pó. Só que ali não tem prateleira, não tem código de barras. Tem jogador com empresário ganhando comissão, categoria de base com supervisor do supervisor, e funcionário que pede 10 mil dólares para viajar e acha normal. A lógica do carrinho de compras não funciona no vestiário.
A verdade é que Pedrinho entrou no futebol achando que dava pra controlar o Cruzeiro como quem controla o açougue da loja. Achou que bastava cortar os excessos, trocar os gerentes, apertar os fornecedores, e pronto. Mas futebol é outra carne. E o problema é que, no meio do churrasco, ele parece já querer sair da mesa. Só não dá para empurrar essa conta para a torcida, que já sofreu demais nos últimos anos.
Se o Cruzeiro naufraga na Sul-Americana, parte da culpa é de quem monta o time — e de quem comprou o clube sem saber nadar. Pedrinho pode ser bom de negócio nos supermercados. No futebol, por enquanto, está fazendo um papel de amador. E a torcida não perdoa.