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Uma estreia amarga e reveladora: Ancelotti conhece, na prática, o que é “a vida real” da Seleção Brasileira

Ancelotti não prometeu milagres. Mas a estreia serviu como uma aula inaugural da realidade sul-americana

Marcondes Brito

05/06/2025 22h06

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Reprodução

A estreia de Carlo Ancelotti no comando da Seleção Brasileira terminou com um insosso empate por 0 a 0 diante do Equador, em Guayaquil. Um jogo tecnicamente fraco, mas repleto de simbolismos para o renomado treinador italiano, que finalmente mergulhou na realidade sul-americana – onde instabilidade e falta de confiança se misturam num coquetel explosivo.

Ancelotti, acostumado aos palcos mais glamourosos da Europa, talvez esperasse um pouco mais de boas-vindas. Recebeu, na prática, um cartão de embarque para uma aventura desafiadora. Se teve sorte de não estrear em Quito, onde conheceria a insanidade da altitude, não escapou do impacto cultural de comandar um time esfacelado psicologicamente, longe do padrão tático que o consagrou no Velho Continente.

O paralelo com 2016 foi inevitável. Naquele ano, Tite assumiu uma Seleção também em crise, em sexto lugar nas Eliminatórias, e estreou justamente em Guayaquil, vencendo por 3 a 0 e transformando o ambiente da equipe. Com Ancelotti, esperava-se um choque semelhante de organização e confiança. Mas o que se viu foi um time travado, com lampejos de organização defensiva, é verdade, mas ainda muito aquém do esperado.

O primeiro mérito do italiano foi fechar a defesa — justamente o setor que havia desmoronado na goleada sofrida diante da Argentina semanas atrás. A “cozinha” foi arrumada. Mas o ataque não funcionou, e a Seleção, como equipe, esteve longe de convencer. Natural, talvez, para um técnico que teve pouco tempo de trabalho. Ainda assim, a lição foi imediata: Ancelotti agora sabe que, mais do que treinar, ele precisará reconstruir a confiança de um grupo profundamente abalado.

Um dos símbolos dessa crise é Vinícius Júnior. Melhor jogador do mundo na temporada europeia, decisivo no Real Madrid, mas na Seleção parece travado, solitário. Esperava-se que, com Ancelotti no banco, ele reencontrasse o brilho. Mas faltam-lhe os “sócios” de Madri — os Modrić, Bellingham, Mbappé. No Brasil, ele ainda está sozinho.

Durante o jogo, um detalhe chamou atenção: o hábito de Ancelotti de mascar chicletes. Só no primeiro tempo, trocou de goma cinco vezes. Talvez fosse a forma que encontrou de processar, em silêncio, o que via em campo: um time inseguro, com medo de errar e ainda longe de competir em alto nível.

Ancelotti não prometeu milagres. Mas a estreia serviu como uma aula inaugural da escola sul-americana: caótica, imprevisível e implacável. A vida real começou.

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