Lee Iacocca foi muito mais que um executivo bem-sucedido. Ícone do capitalismo americano do século XX, ele ficou conhecido como o “pai do Mustang” e criador da minivan. Um self-made man, irado por milhões, chegou a ser cogitado como possível candidato à Presidência dos Estados Unidos. À frente da Chrysler Corporation, protagonizou uma das maiores reviravoltas da história do setor automotivo: tirou a empresa da beira da falência e a reposicionou como uma potência em meio à turbulência econômica.
Filho de imigrantes italianos que vendiam cachorro-quente, Lido Anthony Iacocca nasceu em 1924 e começou a trabalhar na Ford Motor Company em 1946 como engenheiro. Mas foi na área de vendas que brilhou — justamente em um momento em que a empresa enfrentava sérias dificuldades. A resposta? Um carro que atraísse a nova geração americana: ível, esportivo e inovador.
O resultado foi o Ford Mustang, lançado em 1964. Sucesso imediato, o modelo bateu todos os recordes de vendas e se tornou um ícone cultural. O nome, inspirado no caça P-51 da Segunda Guerra Mundial, venceu sugestões como T5, Special Falcon, Torino e Cougar. O Mustang ajudou a salvar a Ford de uma grave crise financeira e alçou Iacocca à fama: estampou capas da Time e da Newsweek e, no ano seguinte, foi promovido a vice-presidente da companhia.
Apesar do prestígio, nem tudo foram acertos. O Ford Pinto, outro projeto liderado por ele, ficou conhecido por pegar fogo em colisões traseiras. A relação com Henry Ford II também azedou, culminando em sua demissão em julho de 1978 — uma saída amarga para alguém que era considerado símbolo da empresa.
Mas Iacocca não se deu por vencido. Pouco tempo depois, aceitou o desafio de reerguer a então combalida Chrysler. Com estilo próprio, pesquisa de mercado e disposição para ouvir o público, lançou em 1984 outro marco da indústria: a primeira minivan americana. A Dodge Caravan e a Plymouth Voyager venderam 210 mil unidades no primeiro ano e redefiniram o consumo de automóveis no país. A Chrysler voltou a lucrar e se consolidou como uma das maiores montadoras do mundo.
Durante duas décadas, Iacocca foi um dos líderes mais influentes do setor empresarial americano. Seu nome era tão reconhecido quanto o de Steve Jobs nos anos 2000 ou Jeff Bezos nos dias atuais. Mais do que um gestor, foi um símbolo de reinvenção e de visão estratégica em tempos difíceis. Para ele, a verdadeira liderança nascia justamente em meio às crises.
“Motivação é tudo. Você pode fazer o trabalho de duas pessoas, mas não pode ser duas pessoas. Em vez disso, precisa inspirar quem está ao seu lado e fazê-lo inspirar os outros”, dizia.
Após deixar a indústria automotiva, Iacocca diversificou seus interesses: investiu em bicicletas elétricas, azeite de oliva, vinhos e em fundos voltados à pesquisa sobre diabetes, doença que levou sua primeira esposa. Viveu seus últimos anos em Bel Air, na Califórnia, e fez sua última visita à Chrysler em 2008, poucos meses antes de a empresa entrar com pedido de falência. Na ocasião, foi recebido por mais de mil funcionários que o aplaudiram de pé.
Lee Iacocca conheceu nove presidentes americanos, além de chefes de Estado e CEOs de grandes corporações. Sua capacidade de liderança e comunicação o tornaram referência para executivos do mundo inteiro. Sua autobiografia, Iacocca (1984), vendeu mais de 7 milhões de cópias e virou manual de cabeceira no mundo dos negócios. O sucesso se repetiu com Talking Straight (1988) e com Where Have All the Leaders Gone?, no qual questionava a escassez de líderes autênticos na política e nos negócios.
Segundo a Wikipedia, Iacocca foi um autor best-seller de obras sobre liderança, negócios e governança corporativa. A revista Portfolio o elegeu o 18º maior CEO da história dos Estados Unidos.
Lee Iacocca morreu aos 94 anos, deixando um legado de inovação, coragem e carisma. E da próxima vez que você vir um Mustang nas ruas, lembre-se: há uma história extraordinária por trás daquele cavalo selvagem.